Muitas vezes, o conceito de eco resort e falta de conforto surgem na mesma frase, o que não pode ser mais errado. E contra nós falamos. Antes de viajar para a Tailândia já tínhamos decidido que era desta que experimentávamos um eco resort, mas com as suspeitas de quem nunca meteu os pés e o resto do corpo em nenhum.

Após escolhermos como destino a ilha tailandesa de Koh Lipe, de uma beleza inegável, mas bastante pressionada pela indústria do turismo, decidimos que devíamos fazer um esforço porara diminuir a nossa pegada naquele local, escolhendo um alojamento sustentável.

A decisão não foi fácil, mas optámos pelo Castaway Eco Resort. Pelas imagens que vimos pareceu-nos um hotel em tudo agradável, com cabanas junto à praia mais bonita da ilha, a Sunrise Beach e habitações semelhantes, mas no interior, rodeadas de vegetação. Tudo muito bonito mas, reparámos nós depois do entusiasmo inicial, as habitações apenas tinham água fria estavam dispensadas de ter ar condicionado. A medo, reservámos e decidimos que a água quente ficava apenas para o chá e se tivéssemos calor, haveria sempre água fria.

A entrada do hotel faz-se por uma zona residencial dos habitantes da ilha, que não ultrapassam o milhar – o resto são todos trabalhadores estrangeiros. Lá dentro, todas as cabanas são exatamente iguais, mudando apenas a sua localização, mais ou menos perto da praia.

Junto ao areal, está o restaurante, construído em madeira, à semelhança de tudo o resto no resort e com um deck majestoso. Neste momento, a falta de água quente e o ar condicionado já ficaram para trás, perante a atmosfera com que nos deparamos.

“As cabanas são espaçosas e construídas segundo o modelo de construção tailandesa, que permite a circulação do ar”

Apesar de cheio, o Eco Resort transmite silêncio e convida a baixar o tom, aqui e ali interrompidos por gargalhadas de gente que parece estar em paz. E na verdade está. Falámos com Nut (isso mesmo, Noz), o funcionário que nos recebeu, e que nos explicou em meia dúzia de traços a filosofia do espaço.

No Castaway as construções são todas feitas em madeira “sem cimento. Assim, quando renovamos, não poluímos e tudo pode ser reaproveitado”, conta-nos. De facto, na ilha, nenhum dos hotéis é dono da terra que ocupa, tudo é concessionado. Assim, se um dia deixarem a ilha, aquele espaço pode ser desfeito sem deixar rasto.

As cabanas são espaçosas e construídas segundo o modelo de construção tailandesa, que permite a circulação do ar e com apenas a ajuda de duas ventoinhas consegue manter o quarto a uma temperatura bastante agradável, mesmo durante o dia. Nestas unidades, existe ainda uma pequena cisterna de vidro, com água potável, que substitui as garrafas de plástico e todos os dias é reabastecida.

No exterior, cada habitação tem um deck com uma cama de rede com vista para o jardim, cuja manutenção dispensa o uso de químicos. Isso traz mais insetos? Não mais do que aqueles que vimos fora do resort.

“Um dos pontos fortes do Castaway é sem dúvida o seu restaurante”

E a água fria e o ar condicionado? Nut explica que na ilha toda a energia é produzida através de geradores, alimentados por combustível, o que se traduz num grande foco de poluição. Ao não terem de aquecer água, nem terem ar condicionado, evita-se sobrecarregar o sistema elétrico.

Fica mais barato para o hotel? provavelmente, mas o ambiente também ganha com isso. Para nós já era assunto encerrado mesmo antes da explicação.

Um dos pontos fortes do Castaway é sem dúvida o seu restaurante, que oferece cozinha de fusão, street food e pratos tradicionais. Comparativamente aos preços praticados na rua, são ligeiramente mais caros, mas a qualidade da confeção está vários degraus acima da média e as quantidades acompanham. Também aqui recomendamos, mesmo que não fique lá instalado.

Para os valores praticados em Koh Lipe, o ecoresort situa-se no meio termo, dependendo da época que se quer visitar e oferece várias opções de pequeno-almoço, todas elas generosas e com vista mar. E que vista.

“Uma das melhores experiências do dia, para quem gostar de acordar cedo, é ver nascer o sol antes de tomar o pequeno-almoço”

Para além dos serviços já mencionados, o Castaway disponibiliza aos hóspedes um centro de mergulho, onde se podem alugar pranchas de paddle, e um centro de massagens junto à praia. Se por lá passar, recomendamos o fim-do-dia.

O veredito desta experiência? Foi a melhor escolha que podíamos ter feito na ilha. Além de ser amigo do ambiente, o Castaway tem uma atmosfera incrível (já tínhamos dito, sim), uma vista de tirar o fôlego e a comida é simplesmente maravilhosa. O staff faz a diferença e está sempre atento, atenção essa que se estende às crianças ali hospedadas, com quem brincam frequentemente, mesmo com aquelas mais energéticas.

Uma das melhores experiências do dia é ver nascer o sol e pouco depois ver os monges a passar na praia e a recolher comida de quem os espera. As aulas de ioga também começam bastante cedo. E o banho de água fria? ah, isso não doeu nada, o calor faz com que a água saia morna.

Texto: Ana Lúcia Sousa e Luís Correia; Fotos: Luís Correia ([email protected])