Rui Daniel da Silva, o português que conhece 143 países, já foi preso e esteve quase a morrer

Rui Daniel da Silva, o português que conhece 143 países, já foi preso e esteve quase a morrer

Rui Daniel da Silva, o português que conhece 143 países, já foi preso e esteve quase a morrer

02-06-2023

02-06-2023


Quantos países existem atualmente no mundo? A lista oscila entre 193 e 199 e a variação deve-se a considerar ou não nações territórios como o Vaticano, a Palestina ou Taiwan. Qualquer que seja a versão correta, o português Rui Daniel da Silva, já esteve em boa parte dos países existentes, tendo visitado qualquer coisa como 143, quase sempre viajando sozinho.

Rui nasceu no Luxemburgo e logo aos 16 anos, na sua primeira grande viagem ao estrangeiro com os pais, percebeu que não era um turista convencional. “Fomos a Salzburgo, a terra natal do Mozart e o que mais gostei foi quando andámos perdidos nas montanhas e nos rios”, recorda. Aliás, hoje em dia, refere que não gosta de cidades e que prefere vilas e aldeias, vivendo no meio do povo, nomeadamente com tribos. Como seria de esperar para alguém com este espírito de aventura, já passou por muitas histórias curiosas e alguns perigos.

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Apanhámos Rui Daniel da Silva durante uma das suas passagens em Portugal. A primeira pergunta que lhe lançámos foi como é que tem tanta disponibilidade para viajar. “Não estou sempre a viajar. Já pedi licença sem vencimento de um ano no liceu [é professor de Piano] e passei esse ano inteiro a viajar e também aproveito as férias escolares, em que consigo ter quase três meses de férias. E tento não gastar muito dinheiro, indo de bicicleta ou à boleia”, começa por referir. O seu próximo destino será o Irão, em julho de 2019 e daí partirá para o Afeganistão, Paquistão e outros países, até chegar ao Bangladesh, em novembro, cumprindo a rota da seda.

Bangladesh, o país que mais o marcou

E por falar em Bangladesh, este foi o país que mais o marcou. “A ingenuidade e pureza deste povo, em especial das crianças, marcou-me muito. Eles ficam verdadeiramente felizes só de olhar para ti e não pedem nada em troca”, destaca. Foi por isso que lá voltou em em setembro de 2017, com o objetivo de angariar fundos para as crianças da Fundação Maria Cristina, organização que ajuda crianças dos bairros de lata de Dhaka, capital do Bangladesh, a realizar os seus sonhos e potenciar as suas capacidades.

“Entrei em contacto com a Maria Conceição [fundadora da Maria Cristina], dei-lhe os parabéns e confessei-lhe que eu também tinha carinho pelo país. Ela sugeriu-me que criasse uma página no justgiving para tentar angariar fundos para as crianças da Fundação Maria Cristina, dando a conhecer ao longo da viagem a fundação na minha página do facebook “Backpacking with Daniel”, explicou.

No Bangladesh, só não gostou da pobreza extrema e, especialmente, do trabalho infantil. “As crianças são obrigadas a ajudar os pais desde muito novas e fiquei chocado ao constatar que trabalham cerca de 16 horas por dia para ganhar o correspondente a 50 cêntimos”, lamenta.

A viagem que o deixou às portas da morte

Outra viagem que o marcou foi SenegalGâmbiaGuinéBissau em bicicleta, na companhia de um amigo. “Foi absolutamente fabuloso. Levávamos uma tenda e íamos dormindo com as tribos. Não houve uma única aldeia que recusasse receber-nos. Normalmente, chamavam o chefe da aldeia e por gestos, perguntávamos se podíamos lá dormir e aceitaram sempre”, conta.

No entanto, esta viagem de bicicleta foi também aquela onde Rui Daniel da Silva passou por mais perigos. “O calor foi infernal e tivemos muita fome e muita sede. Sofremos bastante”, reconhece.
E o pior ainda estava para vir, quando chegou a Portugal. “Apanhei malária e tive sorte em sobreviver, pois era dos piores tipos de malária. O positivo é que uma vez apanhado este tipo de malária, nunca mais podes ter esta doença (risos)”, atira, acrescentando: “Fiquei dois meses internado no Hospital de Viseu e cheguei a estar ligado às máquinas dias a fio. Tenho a certeza que apanhei a malária quando dormi com uma tribo no Burkina. Era só mosquitos e fartei-me de ser picado”, diz.

Curiosamente, esta foi a única ocasião em que ficou gravemente doente depois de viajar. E foi também a única vez em que tomou vacinas antes de sair de Portugal. “Nunca tinha tomada nada em todas as outras viagens e nunca fiquei doente. Não voltei a tomar desde então e também nunca mais tive qualquer problema. Vá-se lá perceber”, sublinha.

As más experiências em África

Decididamente, os povos orientais reúnem a sua simpatia. “Já falei nas pessoas do Bangladesh e posso dizer que também no Irão os locais são fantásticos, muito acolhedores e também não esperam nada em troca. E posso dizer o mesmo do Paquistão e do Iraque. A comunicação social infelizmente só mostra nas notícias o lado mau destes países”, lamenta.

Já em alguns países africanos diz que não é bem assim. “Aí tu já sentes que as pessoas querem sempre algo em troca. Por exemplo, uma vez estava num restaurante a conversar com algumas pessoas, que foram pedindo comida, mas eu nem comi nada. No final, quando me levantei para ir-me embora perguntaram-me ‘então, não pagas?”. E podia dar outros exemplos de como outros povos africanos pedem dinheiro para tudo”.

Na Somália, passou por uma das suas piores experiências. “Apanhei uns militares completamente bêbados a meio da noite, que me detiveram durante quatro horas e me perguntaram o que eu estava ali a fazer. Até que lá consegui convencer o militar mais simpático que eu tinha visto e podia estar ali”, revela. Na Libéria chegou a ser agredido por dois homens que se fizeram passar por polícias militares. “No fundo, foi só para se divertirem. Felizmente, chegou a um ponto em que se fartaram e deixaram-me ir embora”, diz.

Preso duas vezes

Rui já chegou a estar preso duas vezes. A primeira foi na fronteira da Malásia com Singapura. “Trouxe imensos maços de tabaco da Malásia porque eram muito baratos. Na minha ingenuidade, não sabia que o tabaco era considerado droga em Singapura. Quando revistaram a minha bagagem e encontraram um maço eu cometi a asneira de dizer que ainda tinha muitos mais maços. Lá acabaram por acreditar que eu não sabia que tabaco era droga no país e libertaram-me depois de eu ter pago uma multa. E tive como bónus um documento a dizer que podia fumar tabaco em Singapura”.

Noutra ocasião, foi preso na chegada ao Gana porque o voo que o transportou, da Turkish Airlines, não o avisou da obrigatoriedade de visto. “Quando cheguei ao Gana questionaram-me como tinha conseguido chegar ao país sem visto. Prenderam-me durante 24 horas numa cela com um nigeriano algemado e um norte-americano com o mesmo problema que o meu. Disseram-me que ia ser deportado, mas depois acabei por fazer amizade com os guardas quando lhes mostrei vídeos de concertos meus ao piano no YouTube. Paguei uma multa e ficou tudo resolvido”, conta.

Curiosamente, o mais célebre português tem-no ajudado em algumas ocasiões, de forma indireta. “Quando sabem que sou português, as pessoas de quase todo o mundo associam-me ao Cristiano Ronaldo. Por exemplo na Embaixada da Costa do Marfim, disseram-me que iam demorar cinco dias para fazer o meu visto para o Mali, mas quando souberam que eu era português, arranjaram o documento em cinco minutos”, revela.

Percorra a galeria e veja mais fotos das viagens de Rui Daniel da Silva.

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