Pirenéus Aragoneses: Natureza, duas rodas e paisagens soberbas
Pirenéus Aragoneses: Natureza, duas rodas e paisagens soberbas
Pirenéus Aragoneses: Natureza, duas rodas e paisagens soberbas
03-08-2023
Na província de Aragão, no norte de Espanha, escondem-se os Pirenéus Aragoneses, que fazem parte da cadeia montanhosa que separa a Península Ibérica do resto da Europa. Esta região foi uma alegre surpresa na viagem de regresso que fizemos de mota a Andorra. Para os amantes das duas rodas, estas estradas são um verdadeiro paraíso de curvas, rios, montanhas e vales. Mas quem diz de mota diz de carro e, sem dúvida, a pé.
À medida que nos aproximávamos da vila de Biescas, onde iríamos pernoitar antes de rumar aos Picos da Europa, as paisagens com que nos deparámos iam arrefecendo a pressa para chegar aos Picos nesta volta. Em vez disso, ponderámos imediatamente ficar por ali dois dias, que se transformariam depois em cinco.
Biescas é um bom ponto de partida para conhecer os Pirenéus Aragoneses
Situada estrategicamente entre o Valle do Tena e o Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido, Biescas é um bom ponto de partida para conhecer toda a região dos Pirenéus Aragoneses. Foi aqui que ficámos também a saber da existência do majestoso Cañon de Añisclo, mas já lá vamos.
Durante a nossa passagem registámos três percursos com trajetos não muito longos que misturam mota com caminhadas (acessíveis), para que pudéssemos aproveitar um pouco de tudo, porque vir aqui só rodar punho é redutor. Aqui ficam eles.
Rota 1 – Valle do Tena
Biescas – Formigal – Frontera del Portalet – Sallent de Gallego – Merendero de La Sarra – Biescas
Distância: 74,5 kms
Qualidade do asfalto: ótima na estrada principal, mas algumas das estradas secundárias precisam de manutenção, ainda que se façam sem problema.
Saindo de Biescas pela A-136, rumo à Frontera del Portalet, onde começa França, a estrada com curvas largas cedo mostra os seus encantos, sempre com o rio Gállego como companhia ao longo de todo o vale, todo ele rodeado de altas montanhas e com vários pontos de paragem para aproveitar a paisagem.
O Valle do Tena oferece também 29 rotas a pé, mais ou menos exigentes
Famoso pelos seus pontos de esqui (Formigal e Panticosa) o Valle do Tena oferece também 29 rotas a pé, mais ou menos exigentes, para os amantes do trekking e é igualmente um pequeno paraíso para os amantes de bicicleta de montanha ou pura e simplesmente, para quem apenas gosta de estar a usufruir do melhor que a Natureza.
Passagem rápida pelo Formigal, onde pouco ou nada há para fazer para além de esquiar e seguimos até Frontera de Portalet. Aqui, já do lado francês, tivemos a sorte de poder estar perto de alguns cavalos que por ali andam à espera de serem alimentados.
“Sugerimos que, tal como nós, pare num supermercado de beira de estrada e abasteça-se para fazer um piquenique.”
É de facto um dos pontos mais bonitos deste trajeto nos Pirenéus Aragoneses, com montanha de todos os lados e com a neblina a dar-lhe um ar mágico, bom para captar em fotografia. O tempo, muda rapidamente e convém ter sempre um impermeável por perto.
Com vários restaurantes ao longo do trajeto sugerimos que, tal como nós, pare num supermercado de beira de estrada e abasteça-se para fazer um piquenique. Lugares para fazê-los não faltam, mas nós acabámos por ir parar a Merendero de La Sarra, um belo recanto na montanha.
O trajeto que lhe dá acesso faz-se a partir da descida da zona fronteiriça, saindo da A-123 rumo ao Formigal e descendo pela Calle Salen, um caminho pelo meio do campo, rumo a Sallent de Gallego, uma pequena vila, toda ela virada para o turismo.
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A partir daí, apanha-se a Calle de Francia uma estrada estreita com 6 kms de curva e contracurva que atravessa as margens de um grande lago. Uma curta paragem obrigatória e o caminho termina no Merendero de La Serra, ponto de partida para quem parte e chega das caminhadas.
Quem não trouxer comida, não se preocupe que há um café que serve pequenas refeições. Um pouco à frente, várias mesas de madeira junto ao um riacho, oferecem vista privilegiada para a montanha.
O caminho de regresso faz-se pela mesma estrada até à A-136, de onde se volta a sair 7 kms depois, para Panticosa (11 kms). Sem paragem nesta localidade, metemos pela estreia e bonita A-2606 rumo a uma estância termal e mais um ponto de partida para caminhadas na montanha. Vale pelas vistas durante a subida e valerá de certeza para quem quiser subir à montanha.
O regresso até até Biescas é feito novamente pela A-136
Daqui o regresso até até Biescas é feito novamente pela A-136, para mais 16 kms de estrada boa e curvas largas com vista desafogada para o vale e montanhas à nossa frente – uma perspetiva diferente da subida mas igualmente bela.
Na rota sugerida, optámos por fazê-la seguida até à fronteira, vendo possíveis pontos de paragem para o regresso. Objetivo falhado, porque é inevitável parar mais do que uma vez. Em resumo, qualquer que seja a opção, o trajeto pode ser feito, com curtas paragens, em pouco mais de três horas. A partir desta dica, aconselhamos cada um a gerir o seu tempo.
Rota 2: Ordesa e Monte Perdido
Trajeto: Biescas – Torla – Parque Nacional de Ordesa
Distância: 90 kms
Qualidade do asfalto: Excelente na maior do trajeto, mas de Torla até ao parque de estacionamento do Parque nacional o traçado torna-se mais sinuoso e requer mais atenção.
Para aproveitar esta rota da melhor maneira, aconselha-se uma saída pela manhã, metendo pela N-260a. É sem dúvida uma das estradas mais belas desta região, feita de curvas e contracurvas, ora no cimo de montanhas com bermas à beira de precipícios, ora cruzando pequenas vilas em vales.
Comparativamente à rota anterior, este percurso é mais rural e também menos movimentado, o que acaba por torná-lo mais atrativo, por tudo o que oferece.
Ao quilómetro 35 desta estrada, encontra-se a saída para Torla, pela Calle de Ordesa. por onde se circula por mais 10 quilómetros. É aqui que surge o primeiro embate com o coração do Parque Nacional de Ordesa. Ao virar de uma das primeiras curvas lá está a imponente formação rochosa de Mondarruego.
O ponto alto do passeio é avistar o Monte Perdido
É de facto impressionante a altura desta parede de rocha, que ganha cada vez mais opulência à medida que nos aproximamos. É neste cenário que se chega à povoação de Torla, que condiz com tudo o que está à volta.
Tal como no passeio anterior, sugerimos que se abasteça de comida e bebida para fazer um piquenique. Em alternativa alimente-se em Torla, numa esplanada com vista para a montanha. Este parque é um dos locais mais bonitos por onde passámos, para fazer caminhadas, mas para quem não é dado a andanças há outra possibilidade.
À entrada de Torla saem diariamente jipes e carrinhas, que sobem até ao cume de onde se avista todo o vale. A vista é soberba e por 30 euros por pessoa passa-se cerca de quatro horas a ver vários locais. O ponto alto do passeio é avistar o Monte Perdido.
Fizemos a rota da Cola de Caballo.
Dos dois horários à disposição, manhã e tarde, experimentámos o segundo e aconselhamos vivamente. Decidimos também subir a pé a partir do parque e fizemos a rota da Cola de Caballo.
Ao todo, são cerca de cinco quilómetros por trajeto, de caminhada fácil e em bom piso. Sempre no meio da Natureza há várias cascatas pelo caminho até à imponente cascata final. Aconselha-se a trazer ténis ou calçado confortável para caminhada e a começar pela manhã.
Se vier no verão tenha atenção que as entradas no parque, apesar de gratuitas, são limitadas ao número de lugares no estacionamento.
Rota 3: Cañon de Anisclo
Trajeto: Biescas – Broto – Sarvisé – Buerba – Escalona – Cañon de Anisclo – Biescas
Distância: Cerca de 160 kms
Qualidade do asfalto: Quase sempre em ótimo estado. Na zona do Cañon de Anisclo, a estrada está não é a melhor, mas aceita qualquer tipo de viatura sem problemas.
Dos três trajetos que fizemos este é definitivamente o mais emocionante que fizemos com muitas curvas pelo caminho. Saindo de Biescas uma vez mais, segue-se pela N-260a rumo a Broto, uma pequena vila junto ao rio Ara. Daí segue-se em direção a Ainsa, pela N-260 e por fim pela A-138 até Escalona.
Prepare-se para atravessar uma estrada de sentido único, num desfiladeiro profundo
Aconselho a fazer o trajeto de ida sempre seguido, para que se possa aproveitar a rota de regresso. Uma vez em Escalona apanhar a HU-631 que atravessa o Cañon de Anisclo.
Prepare-se para atravessar uma estrada de sentido único, num desfiladeiro profundo. todo o caminho foi esculpido durante milhões de anos pela ação erosiva do rio Bellós. Ao todo são 14 quilómetros feitos em túneis, estradas cavadas na rocha e um sensação de imponência constante.
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Ao longo do caminho vai ter pequenos locais onde pode parar para aproveitar melhor o trajeto. O caminho termina no parque de San Urbez, que dá acesso à ermida com o mesmo nome. Para lá chegar, terá de caminhar meia hora por um trilho com pontes, cascatas e mais belas vistas.
Cansado? É melhor não, porque o caminho de volta será feito prosseguindo na HU-631. Se ainda se sentir com coragem depois de tudo o que viu temos mais. Depois de andar 3,7 km, vai encontrar um cruzamento para uma estrada de terra batida. A estrada não é má e dá acesso a uma pequena aldeia, Sercué.
O trajeto de regresso é sempre feito pelo meio da Natureza até chegar a Sarvisé
Vale a pena o desvio? Se tiver tempo e não se assustar com este tipo de piso, vale sim. Ao chegar ao topo vai ver uma povoação toda arranjada e pouco ou nada habitada. O prémio? Mais uma vista para encher a memória do cartão ou do telemóvel.
De volta à HU-631, o trajeto de regresso é sempre feito pelo meio da Natureza até chegar a Sarvisé. A partir daqui, até Biescas é só seguir pela N-260a. Dos três trajetos apresentados, todos soberbos, os dois últimos ganham pela proximidade com a Natureza. A falta de elemento humano e pela paz que transmitem… e pelas curvas – viemos de mota.
Sabores de Portugal nos Pirenéus Aragoneses
Em Biescas há muitas soluções para comer e vários restaurantes. Aquela que mais nos tocou, não só pela comida, como pela proximidade, foi o Tiki. Situado na rua principal de Biescas, este espaço é propriedade de Miguel, um português que se mudou da região do Porto há 17 anos a convite do tio.
O tio já não se encontra naquela vila dos Pirenéus Aragoneses, mas Miguel está de pedra e cal. É dono do restaurante há oito anos. Pelo meio já constituiu família e não pensa deixar a região.
Miguel está de pedra e cal e é dono do restaurante há oito anos
O restaurante de Miguel serve todo o tipo de refeições. Umas com travo a Portugal, muitas com sabor local e de assinatura. O espaço, acolhedor, tem uma parte interior, onde grupos de pessoas vindas de toda a parte, bebem um copo e comem umas tapas. Ao fundo, Miguel tem uma sala grande, onde serve as refeições.
As especialidades da casa são várias, mas as carnes são um dos pontos fortes. Viemos cá todos os dias e enriqueceu ainda mais a nossa experiência. O preço? Depende da fome, mas a carta é variada e, sem grandes exageros, janta-se por 20 euros.
Dormir no El Rincón de Andrea
A gastronomia é importante, mas o alojamento também. Em Biescas, a oferta hoteleira é na sua maioria alojamento local. Entre as várias opções, encontrámos o El Rincón de Andrea. Esta unidade tem vários quartos, não serve pequenos-almoços, mas é sossegada, limpa e a Andrea uma excelente anfitriã. Se pensa visitar a zona é melhor reservar com alguma antecedência.
Os preços do alojamento por noite, em época baixa, rondam os 70 euros para duas pessoas. O pequeno-almoço pode tomar na Elma a preços muito acessíveis.
Nota final: Todas as indicações que lhe damos são meramente indicativas. Sugerimos que as faça ao seu ritmo e, uma vez chegados lá, há outras opções. Esta foi apenas a nossa boa experiência.
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