A vida são dois dias, três, se estiver no Carnaval do Rio de Janeiro
A vida são dois dias, três, se estiver no Carnaval do Rio de Janeiro
A vida são dois dias, três, se estiver no Carnaval do Rio de Janeiro
13-02-2024
Dizem que a vida são dois dias, três se contarmos com o Carnaval. No Rio de Janeiro sem dúvida que é assim. Estive três dias nesta cidade brasileira, a segunda vez que a visitei, e a minha experiência mostrou-me mais uma vez que são as pessoas que fazem os locais. As atrações são importantes, mas de pouco nos enriquecem se a conexão a quem ali vive for fria e distante.
Bastou esta passagem de três dias pela cidade maravilhosa, para reativar a ligação me uniu a ela há 10 anos. Dos sítios por onde já passei, o Rio de Janeiro é aquele amigo que vemos de quando em quando, mas que uma vez reencontrado soa a termos estado com ele no dia anterior.
Desta vez, escolhi misturar a rotina de visitar os principais pontos turísticos com experiências diferentes. E para mim foi um casamento perfeito entre sentir a cidade, experimentar a gastronomia local, visitar dois pontos turísticos e a experiência fantástica que é pisar o sambodromo, numa altura em que se transpira Carnaval por todas as artérias da cidade – nem consigo imaginar com serão os dias em que tem lugar este acontecimento anual com epicentro nas escolas de samba.
Três dias no Rio de Janeiro sabem a pouco
Como se consegue fazer tudo isto em três dias? Fácil. Apanhei o voo noturno da TAP a uma sexta-feira, que permite dormir toda a noite a bordo e chegar às seis da manhã à cidade do Rio. Ganha-se tempo e logo no primeiro dia dá para fazer várias coisas. Instalado na zona de Copacabana, no hotel Arena, tive logo acesso a uma das principais atrações: o Calçadão.
Andar de manhã neste passeio de calçada portuguesa e com uma extensão de pouco mais de quatro quilómetros é uma excelente experiência. Ver os locais e turistas que aqui acorrem, bem cedo, para caminhar, correr e passear os seus animais de estimação é ver uma montra da multiculturalidade desta cidade.
Ao mesmo tempo, pelo meio desta gente despreocupada que ali passeia, atravessam os vendedores de praia, atarefados com toda a sua logística, preparando mais um dia de venda de milho, água de coco, biquínis e tantas outras coisas. Fazer praia em Copacabana é tudo menos sossegado e tire o sentido de conseguir dormir uma sesta no areal. Todos estes profissionais do areal tornam isso praticamente impossível. Para isso existem outras paragens, como a Praia da Barra. Mas já lá vamos.
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Três horas e meia depois de ter chegado ao Rio e já tinha na bagagem a bonita imagem do Calçadão pela manhã. Atravesso a Avenida Atlântica e dirijo-me ao interior, cheio dos famosos “botecos”, quiosques e muito comércio local. A vida calma junto à praia contrasta claramente com a agitação do comércio local por detrás da linha de prédios que guardam a frente de mar. Há shoppings que se podem visitar como o Rio Sul, famoso pelas celebridades que o visitam, mas nestas ruas e avenidas encontra tudo o que precisa, se quiser tirar algum tempo para fazer compras.
A primeira de três grandes experiências gastronómicas
A oferta do Rio de Janeiro em particular e do estado do Rio de Janeiro em geral, é grande, mas a minha curta visita não estica e são feitas opções para conseguir obter o máximo da cidade em pouco tempo. Subir ao Pão de Açúcar é a primeira delas. Antes, paragem para almoçar no YAYA, no Leme. Este restaurante serve comida típica brasileira, orquestrada pela chef Andressa Cabral, tem tudo o que uma boa refeição precisa: frescura, textura e sabor. Entrei com um supreendente Acarajé, que são nada mais nada menos que seis pastéis de feijão frade, acompanhados por Camarões defumados, Vatapá, Caruru e Saladinha.
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Os seis pastéis são bons para dividir se quer chegar ao prato principal. Aí, a escolha recaiu sobre um prato vegetariano carregado se sabores tradicionais brasileiros: Moqueca de Caju e Castanha, com arroz e farofa como companhia. Estava absolutamente fantástico e reparei mais tarde que a classificação no Tripadvisor não enganava. O cardápio do Yaya está longe de se esgotar nestes pratos e as bebidas estão num patamar de criatividade e sabor bastante elevados. Entre as não alcoólicas, ganha destacada a Limonada de Coco. Nos “drinks” com álcool, venceu Banzeiro, uma caipirinha feita de cachaça, lima, vinho tinto e espuma de gengibre.
Pão de Açucar e Corcovado, os dois grandes 360º ao Rio de Janeiro
Se há cidade onde existem miradouros, o Rio é uma delas. Tem tantos quanto os montes que a rodeiam. Já passei por alguns, como o da Vista Chinesa e recomendaram-me outros, como o miradouro de Santa Marta. Com mais tempo teria feito todos eles, mas optei pelos cartões de visita mais badalados e o Pão de Açúcar está entre eles. Muito procurado por locais e estrangeiros, este local é de facto, diferenciado. O acesso faz-se pelo bondinho do Pão de Açúcar, que pára primeiro no morro da Urca, tendo depois apanhado outro até ao topo do morro do Pão de Açúcar. Do alto dos seus 396 metros de altitude pude ver o Rio de uma ponta à outra. Por mais pessoas que se encontrem na subida à espaço para todos lá em cima. Tanto na primeira paragem como na segunda os turistas são confrontados com um espaço limpo com comércio, um museu e a vista, sempre a vista.
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O tempo que se deve passar por lá? Ora bem, por mim andava lá em cima o dia todo, fosse a observar os macacos que pedem comida ou pura e simplesmente ver a via da acontecer mesmo por baixo de mim, com mais de 10 milhões de pessoas aos meus pés. Mas isso seria se tivesse tempo. Fiquei cerca de uma hora e meia nas duas paragens. Mas para quem precisa de ver ainda mais a correr do que eu, uma hora chega. Mas estenda a paragem se puder.
Durante esta curta passagem pelo Rio ainda consegui aproveitar a ida a outro miradouro: o Cristo Redentor, também conhecido por Corcovado. Visto de baixo, o Cristo parece gigante e foi sempre essa a ideia que tive, mas uma vez lá em cima é a vista que nos esmaga mais uma vez. Sim, é arrebatadora a imagem que se tem a partir do Cristo. A subida fica no lado oposto ao Pão de Açúcar o que fazem destes dois pontos a melhor vista um do outro. Tanto um como o outro se completam e a vista dos dois fazem o mapa completo do Rio.
Para chegar ao cimo do Corcovado e ficar aos pés da estátua de 38 metros de altura do Cristo há várias maneiras, mas para mim só há uma: apanhar o “tremzinho”, que arranca da Rua Cosme Velho. Isto sim, é a melhor maneira de galgar os 711 metros de altura. Aqui recebi o alerta que o tempo estava encoberto, mas se vamos ao Cristo temos de ter fé que vai abrir e lá fui. Fiquei no meio termo. As nuvens lá foram abrindo e fechando como grandes cortinas brancas e fui conseguindo ver aos poucos tudo o que havia para ver. Valeu a pena. Achei mais movimentado que o Pão de Açúcar, mas consegue-se andar entre as centenas de braços abertos para a fotografia.
Samba no pé, na mão e em todo o lado
Visitar o Rio em altura de Carnaval é uma experiência única. Não verdade. não estive exatamente nos dias dos festejos, mas apanhei a semana antes do grande acontecimento e tive a oportunidade única de pisar o Sambódromo em dia se ensaio geral. Mais do que a máquina carnavalesca foram mais uma vez as pessoas que me impressionaram. O rico e o pobre, o mais novo e o mais experiente, o mais introvertido e o mais estridente… todos juntos pelo seu bairro, pela sua identidade, pelo troféu que todos desejam de ano para ano.
Chovia torrencialmente quando cheguei e durante as duas horas de ensaios a chuva passou entre os pingos das escolas da Portela e da Unidos da Tijuca, sem nunca se cansar. O sambódromo é todo ele multiculturalidade, festa marcada de raças, credos, de homens e mulheres que esquecem que o mundo pode ser um lugar mau para viver e aproveitam o que de melhor ele tem: amor e paixão. Demasiado emotivo? Para quem nunca valorizou o Carnaval como eu foi uma estalada de abrir os olhos. Gosto de ver gente feliz e vi muita, tanta quantas o espaço do sambódromo permitiu, tanto na passadeira como nas bancadas, onde os bairristas puxaram, à vez, pela sua escola.
Sem desvalorizar a Portela foi a Unidos da Tijuca quem mais me surpreendeu, pela homenagem que se preparavam para fazer ao nosso país. Foi muito bonito de se ver este amor ensopado até aos ossos, ao nosso país. Dizem que os brasileiros troçam dos portugueses, mas sempre ouvi dizer que só se brinca com quem se gosta. Foi isso que vi, senti e… voltava já para ver mais. Não posso deixar de agradecer à Riotur, um organismo da perfeitura do Rio de Janeiro, que me permitiu o acesso a toda esta festa.
As duas experiências gastronómicas que faltam
Senti-me bem-vindo no Rio, e o estômago também não se queixou. Antes de voar até ao sambódromo aterrei no Bairro do Botafogo no restaurante Bar Tero, um pequeno espaço, bem decorado, com as luzes baixas e uma esplanada debaixo de uma enorme árvore. É sossegado e com um grande ambiente. A cozinha viaja entre os sabores latinos, espanhóis, argentinos, italianos e claro, sul-americanos. O Tero é também albergue de um dos mais saborosos Vermutes do Rio, uma bebida em alta composta por vinho, com infusão de ervas, especiarias e diversos tipos de temperos, que deve ser bebida gelada.
A comida também acompanha bem e nesta passagem por lá experimentei dois pratos: ragu com raviolis de vegetais e canelonis de bróculos em molho de limão siciliano e hortelã. Duas belas refeições de hidratos para quem ia queimar calorias no sambodromo. As notas altas dos reviews que são dadas ao Bar Tero são amplamente justificadas. Vir e repetir.
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É sabida a paixão dos brasileiros pela comida italiana e três amigos romanos prepararam uma surpresa aos cariocas e a todos os que por cá passam. Bem no calçadão, em frente ao posto 3, encontrei o amoR – é assim mesmo que se escreve em alusão à capital italiana. À primeira vista, este restaurante engana, porque parece mais uma “lanchonete” de praia, mas isso é só até se pedir a ementa e a carta dos vinhos. Bem por baixo dos nossos pés, o amoR tem duas cozinhas para pratos quentes e frios e uma adega com mais de 300 garrafas de vinho. Ao longo deste bunker gastronómico existe também um local onde são fabricadas as massas.
O espaço é recente, mas não deverá faltar muito para ser um dos mais concorridos de Copacabana. A ementa é bastante variada e há de tudo. Para a mesa veio um antipasti composto por Burrata, Tomate e Pesto e um Carpaccio de Novilho. Para prato principal dois clássicos italianos: um Rigatoni All’matriciana, com carne e um Linguine Allo Scogli, um prato de peixe. A degustação terminou com uma bela Mousse de Chocolate e um clássico Tiramissù.
Veredito: Ya Ya, Bar Tero e amoR são restaurantes descontraídos, com boa vibe e três excelentes opções para provar o que de bom se faz na cozinha da cidade do Rio. Gostei, recomendo e considerei os preços acessíveis.
Comer bem, dormir ao mesmo nível
A oferta hoteleira do Rio de Janeiro acompanha a procura que existe por esta cidade. Desta vez tive a oportunidade de ficar num hotel da primeira linha de praia, na região de Copacabana: o Arena. Não é das unidades mais baratas da zona e uma noite – um quarto frente mar ronda os 180 euros – mas tem tudo o que um hotel deve ter. Os quartos são simples e funcionais, sendo a vista mar a sua grande mais-valia. Fora deles e começando pelo pequeno-almoço, servido no restaurante no rés-do-chão, destaco a variedade e qualidade da comida, a simpatia dos funcionários e a vista para o Calçadão. Só não percebo o motivo pelo qual o café expresso não está incluído no buffet, mas deve ser coisa de turista português. As refeições fora deste horário também não são más – jantei lá uma vez e a picanha estava no ponto.
As facilidades do Arena são de vária ordem, mas a piscina e a vista do rooftop são o ponto alto deste hotel, quer pela altura a que se encontra, quer pela vista que nos entra pelos olhos. De lá avista-se o Cristo Redentor a aparecer e desaparecer entre as nuvens e toda a praia de Copacabana. Tudo com o cheiro a mar mesmo à nossa frente. O bar de apoio torna este espaço um ótimo local para se recuperar energias ou simplesmente apreciar o fim do dia.
Deslocação e segurança no Rio de Janeiro, em que fase estamos?
Não é segredo para ninguém que a cidade carioca não é a mais segura do Mundo, o que para um português pode causar algum desconforto. As notícias sobre acontecimentos menos positivos são frequentes e não há forma de branquear ou esconder. Pelo que percebi, as autoridades locais têm feito um esforço para diminuir a criminalidade, sobretudo a violenta, e já há muitas zonas pacificadas. Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon são algumas delas. Os pequenos delitos, de “oportunistas”, esses, continuam e por isso, há sempre que manter a alguma atenção e evitar mostrar sinais de riqueza ou expor objetos à mercê da passagem de uma mota ou bicicleta.
A praia mais segura é seguramente a da Barra. Aqui, pode movimentar-se com alguma tranquilidade e é a zona de eleição para morar no Rio. É bom ficar no centro do Rio, mas se a segurança o preocupa, pondere alojar-se nesta zona e depois fazer investidas ao centro. Para me deslocar na cidade usei a Uber e para as visitas usei os serviços de turismo e transportes da Brummie Lines, com preços à medida daquilo que se pretende.
O Rio de Janeiro é bom, mas toda a gente me disse que tenho de conhecer o estado do Rio de Janeiro são coisas muito diferentes. Falaram-me em Paraty, mas também no interior e nas regiões mais montanhosas. Se passar pela cidade maravilhosa, não deixe de explorar as possibilidades no quiosque Tô No Rio, localizado em Copacabana, junto ao posto 3, e organizado pela TurisRio e pela Secretaria de Turismo do Rio de Janeiro.
Voos da TAP favorecem chegada ao Rio de Janeiro
Não é publicidade, mas sim a minha realidade. Não tenho sido o melhor cliente da companhia aérea de todos nós nos últimos anos, muito por culpa dos destinos para onde tenho voado, mas no último ano usei por várias vezes o longo curso da TAP para cruzar o Atlântico. E fiquei surpreendido. Os novos NEO proporcionam uma experiência luminosa que convida à tranquilidade, graças às diferentes temperaturas de cor utilizadas. Os bancos economy plus são de uma grande generosidade de espaço, sobretudo para pessoas de estatura maior. As refeições correspondem aos padrões das grandes companhias aéreas, ainda que o pequeno-almoço possa ser melhorado. O entretenimento a bordo ainda tem o seu caminho a fazer e senti falta da extinta revista da TAP, para mim, a melhor de todas. Resumindo, estou distante da narrativa que coloca a companhia aérea portuguesa num patamar baixo. Uma última menção para a tripulação de bordo: afável, atenciosa e disponível. E não me digam que foi sorte. Só o ano passado foram quatro voos, com outras tantas equipas. Se foi sorte vou jogar no Euromihões.
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